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Empreendendo na Meia-Idade, Empreendendo a si mesmo



“A meio do caminho na jornada da vida, dei comigo perdido numa floresta escura, tendo perdido o caminho.” (HOLLIS; 1995, p.111) .


Essa é uma das frases de Hollis que mais me identifico e expressa exatamente minha experiência, ao iniciar a jornada arteterapêutica. O autor poderia ter usado uma outra imagem, como a de uma highway, uma estrada de alta velocidade, muito bem pavimentada, bem sinalizada, num país estrangeiro e de repente, por um motivo qualquer, nos distraímos desviando da rota, acreditando estar perdidos.


Foi assim que precisei chegar aos cinquenta anos de idade, para compreender melhor tantas outras imagens, como a da música de Renato Russo quando dizia: “Quantas chances desperdicei quando o que eu mais queria era mostrar pra todo mundo que eu não precisava provar nada pra ninguém”.


Percebi que ao sentir que precisamos provar ou deixar de provar algo ao outro, ainda estamos percorrendo uma highway num país estrangeiro ou, como diria Hollis, ainda não adentramos a própria floresta.


Tive que chegar à meia idade e passar pela experiência de me perder na floresta que eu mesma havia desenhado. Essa não é uma imagem figurativa, é uma imagem real que aconteceu comigo em uma das primeiras atividades que participei, cujo título era: “O Seu Caminho”. Acredito, que assim como eu, muitas pessoas nesse exato momento, podem estar percorrendo uma estrada sem, nem ao menos, compreender o motivo de estar nela, acreditando que seja essa a sua estrada.


E, por experiência própria, atesto que é esse algo que nos distrai por um momento, nos desviando da rota, que nos reconduz a nós mesmos, ao encontro com a própria consciência. Assim, a oportunidade de alcançar essa etapa da vida, me reconduziu a empreender a mim mesma para caminhar em direção ao curso de Arteterapia e, mais recentemente, aprender a nadar. “A meio do caminho na jornada da vida dei comigo” 1 , desenhando uma floresta densa, subindo uma montanha entre um vale de lágrimas, onde me deparei com flores multicores e apesar dos riscos, o colorido das flores, era o único sinal de que eu estava caminhando na direção certa.


Era o sinal de que estava, finalmente, deixando meu coração indicar a direção para a renovação da existência. Novos ares para antigos e novos objetivos. A possibilidade de usar não apenas a Arte para conhecer meu ser, mas também, meu próprio corpo como desafio, como instrumento de evolução, tem me ensinado a ampliar o olhar para tudo na vida, sobretudo para a minha relação comigo mesma. Nesse desbravar por novos caminhos, seja na terra, seja na água, tenho aprendido a mergulhar de cabeça naquilo que gosto, sem medo.


Tenho aprendido que abrir os olhos debaixo da água é mergulhar nas águas de meu próprio ser. Que aprender a ser resistente tomando fôlego, é olhar novamente o que precisa ser mudado. Tenho aprendido que conhecer meus próprios limites é também, respeitar meu ritmo e saber que tenho um estilo. Até dentro da água temos estilo próprio! Tenho aprendido a persistir, a não desistir enquanto não chegar à outra borda.


Tenho aprendido a valorizar cada experiência e sentir com elas nitidamente, que estou progredindo a cada dia. E assim, vou aprendendo a ter gratidão por cada etapa da vida e a possibilidade de chegar à metade da existência sabendo que nunca é tarde para sonhar e empreender a si mesmo.


Simone Sampaio




1 HOLLIS, James. A passagem do meio: da miséria ao significado da meia-idade. São Paulo: Paulus, 1995. Coleção Amor e psique.

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